A omissão do Poder
Público em garantir direitos sociais básicos como saúde, educação,
segurança, cultura e lazer a seus cidadãos, representa a prova
cabal, de como as elites políticas estão distantes do povo. As
manifestações populares iniciadas em junho, tiveram como um dos
princípios, a crise de representatividade política em que vivemos
atualmente no país.
A atual gestão
municipal, bem como as passadas, falharam em criar uma política
pública integrada, que atendesse as necessidades da juventude
araguarina. Ausência de projetos culturais, educacionais,
esportivas, geração de emprego e renda, entre tantos outros, foram
fundamentais para que a cada dia nossa juventude não acreditasse em
nossa cidade. Esta ausência também contribuiu para um processo de
criminalização da população jovem do município. Pois o dilema
instalado esta entre, para aqueles que tem condições de pagar para
ter acesso a atividades esportivas, culturais ou de entreterimento, e
para os demais, as margens que sem condições de usufluirem das
práticas privadas, que buscam forjar novos espaços para suas
práticas de sociabilidade e diversão.
Espaço de sociabilidade
impar entre a juventude, o esporte tem uma funcionalidade social
inquestionável. Porém vivemos sobre o crivo de cerceamento do
direito social da prática do esporte e lazer. Campos, quadras se
encontram em péssimas condições de conservação, sem equipamentos
adequados, ou no caso mais crítico, do Ginásio Poliesportivo, em
obras, sem ao menos uma previsão de término e abertura para a
população.
Apesar de toda esta
violência e vandalismo que o Poder Público Municipal desfere a
população, em não garantir direitos sociais básicos, sempre
existem flores que nascem sobre o mais árido terreno. Não existem
maior genuinidade e originalidade do que as alternativas criadas pelo
povo, para transpor estas dificuldades.
No caso do esporte e
lazer isso fica muito claro. A rua e o espaço do lúdico, do
público, e onde todos são bem vindos. A rua é o Maracanã para uma
geração de pés descalsos, que sonha em ser um grande jogador de
futebol. O gol de três passos, metricamente medido é marcado pelas
velhas sandálias havaianas, se torna o objetivo final dos
sonhadores. O eterno clássico de camisas e sem camisas digladiam
pela tão honrosa vitória.
A rua também e a
dimensão mágica de outros esportes. E onde se pratica o bete,
esporte originário do nobre e aristocrático cricket britânico, que
os plebeus ousaram profanar. E o que dizer do basquete de rua e toda
sua poesia, plasticidade, dinamismo e desafios a gravidade. Não se
precisa muito, a receita e simples. Uma chapa de metal, ou pedaço de
madeirite logo vira uma tabela. Um aro de mobilete esta ai o não
lugar, o limite a consagração ou o sentimento de quase. A geometria
espacial da rua, seus limites. Os jogadores levemente bailando,
cortando o ar com uma mecânica humana, que transplantado para o
papel, poderia ser compreendido como uma poesia.
Enfim, e na rua enquanto
espaço da prática esportiva, que a verdadeira democracia popular se
estabelece. Ela é acolhedora, é onde as manifestações populares
brotam. Algumas revelando a pulsante vida em sociedade. Outra uma
afirmação, uma construção sócio – identitário. E por que não
dizer, uma manifestação de resistência perante as práticas anti
populares dos governantes.
O esporte pensando
enquanto direito social básico deve ser garantido pelo Poder
Público. Não somente através de obras eleitoreiras, e medidas
paliativas. Deve – se ter como princípio a solidariedade e
coletividade e não o competitismo individualista disciplinarizador.
É além de tudo, deve – se respeitar as vozes dessoantes que veem
das ruas, pois elas tem muito a que ensinar a nossos
“representantes”.