terça-feira, 30 de novembro de 2010

POESIAS APRESENTADAS NA INTERVENÇÃO: "UM POUCO DE POESIA NO MEIO DA CORRERIA"

100 ANOS DE LIBERDADE - REALIDADE OU ILUSÃO

Será que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão
Será que a Lei Áurea tão sonhada
Há tanto tempo assinada
Não foi o fim da escravidão?
Hoje, dentro da realidade
Onde está a liberdade?
Onde está que ninguém viu?
Moço, não se esqueça
que o negro também construiu
As riquezas do nosso Brasil.
Pergunte ao criador
(Pergunte ao criador)
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela.
Sonhei
que Zumbi dos Palmares voltou (ôô, ôô)
A tristeza do negro acabou
Foi uma nova redenção
Senhor (ai, senhor)
Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal)
Que tanto sangue derramou
Contra o preconceito racial
O negro samba, negro joga capoeira
Ele é o rei da verde e rosa da Mangueira.


** Autores: Hélio Turco / Alvinho / Jurandir da Mangueira
** Samba enredo do GRES Estação Primeira de Mangueira – 1989.



Guerra é o que nosso povo mais conhece.
As guerras de Palmares, a guerra de Canudos,
As guerras das favelas, as guerras do dia-a-dia.
As armas não eram suficientes para combater o inimigo
e as baixas sempre foram enormes. Mas hoje é diferen-
te; não é satisfatório, mas é diferente. Estamos comba-
tendo com armas mais poderosas que antes, e de diver-
sos calibres: Respeito, Auto-estima, Consciência, Inte-
ligência. E essa guerra não vai terminar tão cedo, talvez
nem termine.


** ( Thaíde – músico rapper, 2000)



OUTRAS NOTÍCIAS

Não vou às rimas como esses poetas
que salivam por qualquer osso.
Rimar Ipanema com morena
é moleza,
quero ver combinar prosaicamente
flor do campo com Vigário Geral,
ternura com Carandiru,
ou menina carinhosa / trem pra Japeri.
Não sou desses poetas
que se arribam, se arrumam em coquetéis
e se esquecem do seu povo lá fora.


** Autor: Ele Semog




SE ELA FAZ EU DESFAÇO

A treze de maio
Fica decretado
Luto oficial na
Comunidade negra.
E serão vistos
Com maus olhos
Aqueles que comemorarem,
Festivamente,
Esse treze inútil. E fica o lembrete:
Liberdade se toma
Não se recebe
Dignidade se adquire
Não se concede.


** Autor: Ele Semog



TREZE

Cansado de ser servido,
em prantos regados de cor e som
para comensais risonhos,
que dilaceram nossos valores,
com os dentes afiados.

Quero agora, no momento lúcido
gritar o necessário fato,
de que os treze ou treze
não nos diz nada além
do que vocês, caros convivas,
querem mostrar, encobrir, ostentar.
Criaram fotos coloridas,
comemorações festivas,
toques de tambores e atabaques,
para mostrar que somos
livres, felizes, e aceitos.
Tolas mentiras!
somos sim:
lascas de suor,
cortes de chicotes,
cheiro de fogão
entradas de serviço.
Precisamos fazer algo sim
para que ao invés
do paternalismo brutal
da gentil princesinha
haja a liberdade
de podermos realmente
abrir a porta desta senzala
para fazer a festa da cor real
do som dos atabaques
de danças e corpos
que rasgarão a noite,
os tempos
no verdadeiro canto
da ABOLIÇÃO que ainda não houve.


** De O Arco-Íris Negro, São Paulo, 1978 (José Carlos Limeira)




BRASIL COM P

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto, pobre, prostituta
Pra polícia prender
Pare, pense, porque?
Prossigo
Pelas periferia praticam perversidades: PMs
Pelos palanques políticos prometem, prometem
Pura palhaçada Proveito próprio,
Praias, programas, piscinas, palmas...
Pra periferia? Pânico, pólvora, pápápá
Primeira páginas
Preço pago?
Pescoço, peito, pulmões perfurados
Parece pouco?
Pedro Paulo
Profissão: pedreiro
Passa-tempo predileto: pandeiro
Preso portanto pó Passou pelos piores pesadelos
Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos
Perdeu parceiros, passado, presente
País, parentes, principais pertences
PC: político privilegiado
Preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policial
Passou pela porta principal
Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portanto pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões...
Pecado, pena
Prisão perpétua

Palavras pronunciadas pelo profeta, periferia

Próxima Parte:

Pelo presente pronunciamento,
pedimos punição para peixes pequenos,
poderosos pesos pesados.
Pedimos principalmente paixão pela pátria
prostituída pelos portugueses
Prevenimos,posição parcial poderá provocar
protestos, paralisações, piquetes, pressão popular,
Preocupados?
Promovemos passeatas pacificas, palestras,
panfletamos
Passamos perseguições, perigos por praça, palcos...
Protestávamos porque privatizaram portos,
pedágios... (precisamos produzir)... proibidos
Policiais petulantes, pressionavam, pancadas,
pauladas, pontapés (precisamos produzir)
Pangarés pisoteando, postulavam prêmios, pura
pilantragem
Padres, pastores, promoveram procissões
pedindo piedade,paciência para população
Parábolas profecias, prometiam pétalas,
paraíso predominou predador
Paramos, pensamos profundamente:
Porque pobre pesa plástico, papelão,
pelo pingado, passagem, pelo pão?
Porque proliferam pragas, pestes pelo país
Porque Presidente?
Pra Princesinha, Patricinha: Prestigio, Patrocinio,
Progresso, Patrimonios, Propriedade, Palacetes,
Porcelana, Pérolas, Perfumes, Plásticas, Plumas,
Paetes.
Porque Prossegue?
Pro Plebeu Predestinado: Pranto, Perfuracoes, Pesames,
Pulseira Pro Pulso, Pinga, Poeira, Pedradas, Pagar
Prestacao Por Prestacao, Parceiros Paraliticos,
Paraplexicos, Prostituicao
Personalidades Publicas Podiam Pressionar Permanecem
Paralizadas, Procedimento Padrao, Parabens! Peco
Permissao Pra Perguntar: Porque Pele Preta, Postura
Parda? Po Pensador, Pisou, Pior, Posou Pros Playboy,
Pra plateia, Peço Postura, Personalidade.. Pros
Parceiros, Pras Parceiras
Presidente, Palmares Proclama: Primeiro, Presenca
Popular Permanente. Proposta: Pente Por Pente, Pipoco
por Pipoco Paredao Pros Parisit


** Autor: GOG (CPI da Favela)




POEMA SOBRE PALMARES

Nos pés tenho ainda correntes,
nas mãos ainda levo algemas
e no pescoço gargalheira,
na alma um pouco de banzo
mas antes que ele me tome,
quebro tudo, me sumo na noite
da cor da minha pele,
me embrenho no mato
dos pelos do corpo,
nado no rio longo
do sangue,
vôo nas asas negras
da alma, regrido na floresta
dos séculos, encontro meus irmãos,
é Palmar,
estou salvo!
(...)
Para Palmares veio negro
que não gemia nos açoites.
E pelo mato escuro veio negro
que se escondeu na própria noite.
Pela selva fechada veio negro
para quem o Palmar foi clareira.
No rastro uns dos outros vieram negros,
cães acuados farejando o cheiro.
E negro roubado a esmo
do cativeiro para a liberdade,
do senhor para si mesmo.


** AUTOR: OLIVEIRA SILVEIRA (FRAGMENTOS 1972 – 1987)





A PALAVRA NEGRO

A palavra negro
tem sua história e segredo
veias do São Francisco
prantos do Amazonas
e um mistério Atlântico
A palavra negro
tem grito de estrelas ao longe
sons sob as retinas
de tambores que embalam as meninas
A palavra negro
tem chaga tem chega!
tem ondas fortes suaves nas praias do apego
nas praias do aconchego
A palavra negro
que muitos não gostam
tem gosto de sol que nasce
A palavra negro
tem sua história e segredo
sagrado desejo dos doces vôos da vida
o trágico entrelaçado
e a mágica d'alegria
A palavra negro
tem sua história e segredo
e a cura do medo
do nosso país
A palavra negro
tem o sumo
tem o solo
a raiz.


** AUTOR: LUIZ SILVA (CUTI)




QUILOMBOS
SONHOS I

O rei de Portugal
mandou ao povo matar
se Palmares ainda vivesse
em Palmares queria estar
Cumbe na Paraíba
Alagoas, Macaco e Subupira
Mangueira, São Carlos
Portela na Avenida
são quantos?
Ontem morri
em Andalaquituche
Tabocas
Amaro
Acotirene
Hoje no Juramento
Borel
Turano
Salgueiro
Morro subindo morro
rolo ladeira cada dia
com decidido ar de
defunto novo
quando desce a noite
vejo em cada fundo de prato
o reflexo da luz da vela
e sonhos para devorar
NOTÍCIAS
Por menos que conte a história
Não te esqueço meu povo
Se Palmares não vive mais
Faremos Palmares de novo.


** AUTOR: JOSÉ CARLOS LIMEIRA

domingo, 28 de novembro de 2010


Neste sábado (27/11/2010) o Coletivo Rimas Vermelhas juntamente com a CUFA (Central Única das Favelas) realizou a intervenção cultural “Um pouco de Poesia no meio da correria”, fazendo alusão as comemorações ao Dia da Consciência Negra.

Dentro das várias atividades, o Coletivo Rimas Vermelhas buscou fazer uma reflexão crítica sobre as questões latentes, que permeiam o universo das comunidades negras, através da exposição de poesias escrevidas por autores e músicos negros. A idéia era demonstar os vários olhares do que e ser negro no Brasil. Contudo, o foco maior era desmistificar as narrativas históricas oficiais, que ao criarem um marco histórico da envergadura da ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO, contribuiu e contribui para perpetuação do racismo velado em nosso país, obejtivando atender aos interesses do capital.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Democracia Racial para quem cara pálida?

Em tempos globalizados o multiculturalismo se constituem como uma grande ameaça para alguns, ou como força que forja a identidade coletiva para outros. Uma tentativa simplista de aproximação as noções politicamente corretas, que são vigentes no mundo. Sobre o prisma das noções politicamente corretas, o Brasil se “orgulha” ´por sua composição étnica. “Do mosaico de etnias surge um país tropical abençoado por Deus, chamado Brasil”. Esta e a idealização que nos são apresentado a todo o instante, pelas mídias de massa. Esta idealização alimenta diretamente o mito da Democracia Racial no Brasil. Contudo sabemos que por trás de todo este ufanismo a cerca da Democracia Racial, existem questões bem mais complexas. Por um lado o mito da Democracia Racial omite as tensões sociais existentes, produto do projeto de sociedade a seviço dos interesses do capital. Por outro lado o Poder Público tenta através de medidas paliativas pagar as dívidas históricas com as populações menos abastadas.

Todos nos sabemos que o exército populacional que vivem nas orlas urbanas são compostas por sua grande maioria de negros. Porém quando falamos dos negros inseridos na sociedade brasileira, nossos olhares são direcionados para o perído da escravidão. Assim a história dos negros no Brasil se limitam a este período, sendo que após a abolição da escravidão, o negro tem sua imagem apagada da história. São raros os livros didáticos que citam os negros enquanto agentes históricos ativos, pós abolição. Como por exemplo atuando dentro do Partido Comunista, militando durante a Ditadura Militar, ou mesmo no processo de redemocratização do país. Esta e a Democracia Racial idealizada pelas elites brasileiras. Selecionam os elementos que a compoem, mumificado - os, tornando manifestações monolíticas, que atendem a um projeto de sociedade ordenada e excludente, pautada na engenharia social.

Em meados dos anos 90 o negro é resgatado do ostracismo histórico. Contudo este resgate se deu as avessas. Os negros retornaram ao foco do debate social depois de 100 anos. Agora são colocados como agentes pontencializadores da violência. A todo instante vemos através das mídias de massa a construção do esteriótipo social, de que todo negro pobre e marginal. A generalização deste esteriótipo social, traz consequências graves as populações pobres. O esteriótipo do negro pobre que mora na periferia atende a necessidade de ordenar as sociedade. Por que quando se consegue “indentificar” possíveis elementos que causam disturbios sociais, o Estado consegue impor melhor o seu poder coersitivo.

O princípio básico da Democracia e a igualdade entre as pessoas. Mas será que o que vemos atualmente, principalmente quando falamos de Democracia Racial é isso? As populações negras e consequentemente pobres são açoitadas pelo Poder Público, que tenta maquiar as tensões sociais, e nós fazer acreditar que o Brasil esta edificado em uma “Democracia Racial”.

O dia da consciência negra não deve ser pensado enquanto uma data comemorativa pura e simplismente. Deve ser pensando como um dispertar das comunidades negras para a luta por igualdades, mas principalmente para a introdução de um debate qualificado a cerca de um verdadeiro projeto de sociedade – popular e democrática, que englobe todas as manifestações humanas, edificada sobre os auspícios da verdadeira DEMOCRACIA RACIAL.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

“Rimas e consciência”


Com o processo de redemocratização do Brasil após 21 anos de Ditadura Militar, em que a sociedade brasileira viveu sobre a egia do poder exercido pelos militares, vimos surgir movimentos socio – culturais que contribuiram para dar voz aos sujeitos históricos, até então calados pelas práticas oficiais dos donos do poder. Para alguns pseudos intelectuais, a relação que a grande parcela da população pobre, que vive nas periferias das cidades brasileiras tem perante a democracia e de um estado de alienação. Não se reconhecendo como potenciais sujeitos históricos, dotados de um poder transformador, da sua própria realidade.

Com a abertura política em 1985, o movimento Hip – Hop desponta para atender o clamor da periferia, que necessitava de voz para se alto reconhecer, enquanto agentes de seu próprio tempo. Dotando – os de um sentimento de capacidade de intervir em sua própria realidade, fugindo do fatalismo que são impostos, sejam pelas grandes mídias, ou pelas estatísticas friamente constituidas pelo poder público. Dentro deste processo de constituição e complexificação do movimento, demonstrará os encontros e desencontros do que alguns ideólogos políticos chamam de democracia plena.

Quando pensamos o movimento Hip Hop, como uma manifestação de cunho coletivo, onde seus indivíduos são dotados de um senso de engajamento político determinado, três questões se abrem, perente nossos olhos, direciondo para o campo do debate teórico e da práxis. Para alguns o movimento Hip Hop e “apenas” um espoente cultural, ou minimamente falando, um movimento musical, onde seus elementos mais visíveis foram tragados pela indústria cultural. Também existe aqueles que o qualificam como um movimento que tem na apologia da violência, um dos seus principais elementos. A outra questão está alinhada a noção do movimento enquanto um mero “transplante cultural”, ou seja, não seria mais do que uma cópia fideldigna do movimento Hip – Hop surgido nos EUA, nos anos 1970.

Para compreendermos melhor o que significa o movimento Hip Hop no país, e necessário que regressemos a seus primórdios, tanto no EUA, quanto no Brasil. Como também deve – se compreender as quatro bases que compoem o Hip – Hop (break ou dança de rua, rap, grafite, MC e DJ).

A gêneses do movimento Hip – Hop nos EUA

Existe um consenso que o Hip – Hop nasceu nos EUA, na região do Bronx, na cidade de Nova York. Porém e incorreto afirmar que o Hip – Hop seja uma manifestação composta por elementos puramente norte – americanos. Nova York e historicamente uma cidade caracterizada pelo multiculturalismo. Na década de 1970, seus entornos mais pobres, ai podemos incluir o sul do Bronx, vivenciava uma efervecente deslocamento social. Está efervecencia contribuiu para o surgimento de um nova forma musical - o rap.
Dentro das formas expressivas do Hip – Hop, o rap recebeu influências das tradições culturais negras, como também foi influenciado pela música caribenha de origem africana. Aqui podemos abrir um parênteses e falar um pouco da contribuição dos imigrantes jamaicanos, que trouxeram elementos que iria compor a base do Hip – Hop.
O MC (mestre de cerimônias) e o DJ (disk – jockey) são os outros dois elementos que fazem parte do rap. Enquanto o MC priva no recitar da letra das músicas de forma rápida, o DJ desempenha o manusear do equipamento de som, criando a base musical tanto para os rappers cantarem, quanto para os dançarinos de break realizarem suas performace.

A conotação “política” existente no rap, onde o MC passa uma música com mensagem, vai se consolidar nos EUA em meados da década de 1980, isso segundo alguns autores. Está consolidação deve – se principalmente a grupos da costa oeste dos EUA, tendo em Boogie Down Productions e Public Enemy um dos principais expoentes da vertente “política” do rap. O conteúdo das músicas tendem a relatarem denúncias e injustiças sofridas pela comunidade negra norte – americana.

Existe uma outra tese que os primórdios do rap com uma conotação política, havia surgido na década de 1970, como reflexos da questão racial. Mesmo com a conquista dos direitos civis pelos negros, graças a atuação dos movimentos negros norte – americanos, entre eles o dos Panteras Negras, a questão racial continuava latentes. A Guerra do Vietnã seria outro disparador para a vertente política do rap. Não e segredo que o exército norte – americano no furor da guerra tenha engrossado suas fileiras de combate com um grande número de soldados provenientes das comunidades mais pobres do país.

Se explorarmos o rap enquanto uma manifestação contestadora da realidade, percebemos que mediante suas letras, revela o cenário vivido pelas pessoas nas regiões periféricas das grandes cidades, como evidência um contexto conflituoso, tencionado pelas desigualdades gritantes, existentes seja nas periferias dos EUA, Brasil ou da França. Talvez esteja ai a vitalidade que tornou o rap uma forma de expressão musical universal, sendo ouvida nas periferias de Nova York, São Paulo e nos subúrbios parisienses.

O Hip – Hop no cenário nacional

Ao trazer o Hip Hop para o cenário nacional, é inevitável falar do movimento sem não vincula – lo a cidade de São Paulo. Pois foi ali que surgia, em meados de 1985, primeiramente como uma expressão artística, tendo na dança de rua (break) sua principal manifestação. Mas ao passar do tempo foi sendo readaptado e reinterpretado, moldando – se até desembocar na sua fase mais complexa, que alem do break, o grafite, uma manifestação artística que mistura elementos das artes plásticas, produzindo painéis que representam a realidade da comunidade, compondo assim as bases do movimento Hip – Hop.

Como foi tratado anteriormente, o movimento Hip – Hop, sempre sofreu com o esvaziamento ideológico, causado principalmente pela grande mídia. Renegando a uma posição apenas musical, ou como um simples nicho comercial a ser explorado. Negar a existência do movimento Hip – Hop, e negar as tensões sociais existentes dentro da sociedade brasileira. Para tal, devemos estar atentos a estas práticas, que partem das elites dominates, que governam o Brasil durante anos. Como forma de refutarmos estas práticas, os sujeitos sociais vem atuando na formação da consciência crítica dos membros pertencentes do movimento Hip – Hop.

Com relação a questão da “apologia a violência”, que para alguns estão presentes nas letras do rap, comentários pertinentes devem ser tecidos. Pode – se afirmar que esta e uma das questões mais delicadas, que envolve o movimento Hip – Hop. Pois a partir do momento que se afirma o rap como gênero musical que faz apologia a violência, cria – se esteriótipos, preconizando e preconceitualizando tais sujeitos sociais. Esteriótipos estes, que são vendidos a todo momento pelas grandes mídias. Tudo isso segue uma lógica de ordenamento social. Pois fica mais fácil indentificar o pobre que mora na periferia como o eterno bandido na história. Vale ressaltar que quando sujeitos oriundos das classes médias brasileiras comporem músicas que fazem menção a polícia e suas práticas repressivas, o eixo das conceitualizações e invertida. Peguemos por exemplo a música “Polícia” dos Titãs, que tem o seguinte refrão: “Polícia para quem precisa, polícia para que precisa de polícia? Não se revela como música que faz apoligia a violência, mas sim, música de protesto, com um aceno politicamente correto.

Outro elemento delicadísismo ainda presente na questão do rap, enquanto gênero musical que faz “apologia a violência”, está o problema da violência institucionalizada, via polícia, presente nas grandes cidades. Analisando algumas letras de alguns grupos de rap, notasse uma certa visão que aponta para o cenário de uma guerra civil não declarada dentro de nossa sociedade. A polícia se constituem como a força repressora a serviço dos ricos. A incidência deste tema, retrata a polícia como uma instituição corrompida pela corrupção, e largamente utilizada pelas mídias.

Por último vem a questão do movimento Hip – Hop como um mero “transplante cultural”. Estes argumentos que descredibilitam o movimento Hip – Hop e de uma tamanha ingenuidade, pois a conjuntura histórica existente no Brasil era totalmente diferente da existente nos EUA, quanto as primeiras manifestações aportaram aqui. Como é diferente a estratificação social existente lá e aqui. Assim os apologistas da incredulidade a cerca do movimento Hip – Hop, enquanto uma manifestação sem elementos brasileiros são facilmente desmascarados. As demandas do movimento no Brasil são revelados enquanto uma herança historicamente constituida. Reflexos de anos e anos de opressão desempenhadas pelas elites dominantes sob as populações pobres. O que se pode dizer é que, seu agravante dá - se a partir do momento em que o processo de constituição de uma “identidade nacional” , tendo como matriz civilizadora a sociedade européia e forjada no final do século XIX e início do XX.

Fugindo dos esteriótipos

E salutar o apontamento de algumas características do movimento Hip – Hop enquanto movimento social, engajado em uma causa com contornos um tanto quanto definidos por seus membros. Estes apontamentos vão de encontro com uma noção preconizada, que ainda permeia as noções de movimentos sociais existentes durante a Ditadura Militar, o que a certo ponto dificulta o entendimento do movimento Hip – Hop, caindo na perigosa idéia de que as populações pobres urbanas estão sobre um estado de alienanção, não conseguindo se erguer perante a face desumana do sistema socio – econômico que vivemos.

Se fizermos uma comparação, a certo ponto anacrônico com os movimentos artísticos surgidos nos anos 60 que contestavam as instâncias intitucionais, e buscava uma saída para o país, com as novas manifestações, entre elas o movimento Hip – Hop, surgidas após a abertura política em 1985, e visível à inversão tomada por estes novos movimentos culturais. Dentro dos marcos propostos pelos movimentos de 1960, estava a crença inabalável que se poderia mudar o Brasil, mediante a arte. Os novos movimentos, que serão geridos após 1985, têm como objetivo não a mudança da sociedade em sua pluralidade, mas sim, a esfera que estão inseridos. O caráter contestatório se fundamentalizam não mais na deposição do Estado instituído, sendo substituído por um Estado Socialista, como os movimentos dos anos 60 profetizavam. Agora busca – se a inserção destes indivíduos, que se vêem órfão do Estado, através das críticas veementes que são vinculadas via rap. Esta prática até certo ponto e perigosa, pois com isso cria – se a falsa idéia da livre concorrência entre os indivíduos, tendo na meritocracia o fator balizador das disputas.

Outro ponto a destacar e a inversão do aparato repressivo. Após o Golpe de 64 houve um esvaziamento dos movimentos culturais politicamente engajados, que até ponto e justificável, principalmente se pensarmos no aparato repressivo criado pelos militares, seja pela censura, seja pela prisão dos membros mais atuantes. Agora com relação à década de 1980, após a abertura política, há uma efervescência onde emerge a noção de se estar vivendo sobre uma democracia plena, confabulando este, o grande perigo, pois a maioria das pessoas foram tragadas por esta falsa e enganadora idéia. Os poucos movimentos que surgiram neste período, foram incorporados à nova visão de espaço para se exercer o debate político, onde os movimentos são apresentados de forma fragmentada, sem nenhum vínculo entre ambos. Este e uma das novas formas de repressão aos movimentos civis organizados, como também pode citar a mídia, enquanto aparato repressivo. A fabricação de esteriótipos, o esvaziamento ideológico, substituídos por elementos econômicos, são algumas formas utilizadas pela mídia, como aparato repressivo. Outra prática exercida pelos aparatos repressivos sobre os movimentos sociais, que presenciamos atonitos atualmente, ai incluimos o movimento Hip – Hop está na criminalização de tais movimentos, elevando – os a esfera da ilegalidade.

E corriqueiro pensar nas populações que vivem nas periferias das cidades, através de um caleidoscópio míope, que categoricamente os revelando como simples indivíduos inseridos em uma conjuntura desfavorável. Este pensamento e muito cômodo, e de extrema eficácia, pois os colocam em uma estrutura de explicação, que os petrificam em sua condição, ou seja, eternamente serão os excluídos sociais. Assim sempre que se falar em desigualdades sociais, logo se pensa em excluídos sociais, o conceito e não os indivíduos. A estrutura explicativa encobre todo o conflito e as tensões, que moldaram estes indivíduos, como também encobre a pluralidade de sentimentos que compões os seres humanos. Por isso a música tem significância universal, pois potencializam os homens, transformando – os em atos de ação perante suas adversidades.

QUE CIDADE NÓS PERTENCE?


As vias públicas, os espaços da insociabilidade!

Ruas asfaltadas ou de terra, algumas sem buraco, umas tantas com problemas, com esgoto escorrendo a céu aberto; avenidas largas ou não, com canteiros centrais, cheio de árvores, algumas cobertas de grama, bem convidativas para praticar o ócio produtivo, ou jogar aquele futebol de final de semana; praças, as praças! como estão tristes, não são mais o local das pessoas se encontrarem, para jogar papo fora, para as crianças correrem livremente, fazerem algazarras, para ouvir os pássaros. Em seu lugar ergueu – se um local sem dono, onde o poder público relegou seu dever de preservar tais locais. Para que conservar as praças, se as pessoas não mais se sociabilizam nestes espaços?

Os bairros e suas singulares culturas, tensões, conflitos e paixões!

Os bairros das classes médias são verdadeiros túmulos, totalmente reféns da "insanidade" disseminada em parte por causa de uma mídia irresponsável, que propaga a paranóia coletiva, de um mundo sobre os auspícios da barbárie. Casas que mais parecem prisões, monitoradas pelas vigilâncias eletrônicas, câmeras de vídeos, porteiros eletrônicos, sensores, cercadas por fios eletrificados, segurança 24hs, condomínios fechados, seja bem vindos à cultura do medo!

Os bairros populares, assim prefiro chama – los, pois se os classificassem de periféricos, estaria supondo que existiria um centro, que emana um determinado tipo de poder sobre estes. Ah, os bairros populares, alguns criados pelos planos de habitação, com suas casas padronizadas, que seguem na tentativa de tornar o cotidiano de seus moradores monótono e homogêneo. Outros que não seguem uma lógica, onde as casas salpicam, aqui e ali, formando um verdadeiro quebra cabeça social. Nestes bairros como e pulsante as manifestações, as verdadeiras espontaneidades de pertencer à sociedade, mesmo quando o poder público expropria de forma brutal os direitos destas pessoas.

E verdades que moramos em uma mesma cidade, compartilhando de um mesmo espaço, contudo vivenciamos diferentemente nossas experiências no que e o estar em sociedade. Contra a tentativa de homogeneizar nossos olhares, encobrir nossas lutas deve compreender que apesar de tudo que se fala de Araguari ser uma cidade ordeira, temos tensões sociais, embates nos campos do direito de pertencer a este município.
Queremos viver nossas experiências sociais com nossos olhos, com nossos corações, com nossa alma. Não queremos enxergar o mundo através das lentes oficiais, dos donos do poder. Queremos realmente pertencer a Araguari!

Assim, não e a cidade que desperta nosso senso de pertencimento, mas nossas relações sociais, de embates e tensões, forjando os espaços na estrutura cristalizada, chamada sociedade.

Aqui de cima tudo parece calmo, vejo uma cidade com prédios, casas, fábricas, escolas, hospitais, vejo no fundo uma ilusão!

domingo, 7 de novembro de 2010

Quem somos?




O COLETIVO RIMAS VERMELHAS surgiu da necessidade de politizar os espaços de debate da sociedade araguarina. Composto de vários setores, busca através da organização dos movimentos sócio - culturais engajados, dar visibilidade as manifestações das populações que vivem na periferia de nossa cidade.

Manter não contemplativo a realidade não se caracteriza como uma postura de alienação, mas partir do pressuposto que através da organização social e da luta, podemos intervir positivamente no status quo.

Por isso assassinamos os fatalismos e deternimismo. Acreditamos que somente seremos livres quando tornarmos donos de nossa própria história, senhores de nossas próprias vozes.

Poder ao Povo livre da Periferia!