terça-feira, 30 de novembro de 2010

POESIAS APRESENTADAS NA INTERVENÇÃO: "UM POUCO DE POESIA NO MEIO DA CORRERIA"

100 ANOS DE LIBERDADE - REALIDADE OU ILUSÃO

Será que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão
Será que a Lei Áurea tão sonhada
Há tanto tempo assinada
Não foi o fim da escravidão?
Hoje, dentro da realidade
Onde está a liberdade?
Onde está que ninguém viu?
Moço, não se esqueça
que o negro também construiu
As riquezas do nosso Brasil.
Pergunte ao criador
(Pergunte ao criador)
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela.
Sonhei
que Zumbi dos Palmares voltou (ôô, ôô)
A tristeza do negro acabou
Foi uma nova redenção
Senhor (ai, senhor)
Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal)
Que tanto sangue derramou
Contra o preconceito racial
O negro samba, negro joga capoeira
Ele é o rei da verde e rosa da Mangueira.


** Autores: Hélio Turco / Alvinho / Jurandir da Mangueira
** Samba enredo do GRES Estação Primeira de Mangueira – 1989.



Guerra é o que nosso povo mais conhece.
As guerras de Palmares, a guerra de Canudos,
As guerras das favelas, as guerras do dia-a-dia.
As armas não eram suficientes para combater o inimigo
e as baixas sempre foram enormes. Mas hoje é diferen-
te; não é satisfatório, mas é diferente. Estamos comba-
tendo com armas mais poderosas que antes, e de diver-
sos calibres: Respeito, Auto-estima, Consciência, Inte-
ligência. E essa guerra não vai terminar tão cedo, talvez
nem termine.


** ( Thaíde – músico rapper, 2000)



OUTRAS NOTÍCIAS

Não vou às rimas como esses poetas
que salivam por qualquer osso.
Rimar Ipanema com morena
é moleza,
quero ver combinar prosaicamente
flor do campo com Vigário Geral,
ternura com Carandiru,
ou menina carinhosa / trem pra Japeri.
Não sou desses poetas
que se arribam, se arrumam em coquetéis
e se esquecem do seu povo lá fora.


** Autor: Ele Semog




SE ELA FAZ EU DESFAÇO

A treze de maio
Fica decretado
Luto oficial na
Comunidade negra.
E serão vistos
Com maus olhos
Aqueles que comemorarem,
Festivamente,
Esse treze inútil. E fica o lembrete:
Liberdade se toma
Não se recebe
Dignidade se adquire
Não se concede.


** Autor: Ele Semog



TREZE

Cansado de ser servido,
em prantos regados de cor e som
para comensais risonhos,
que dilaceram nossos valores,
com os dentes afiados.

Quero agora, no momento lúcido
gritar o necessário fato,
de que os treze ou treze
não nos diz nada além
do que vocês, caros convivas,
querem mostrar, encobrir, ostentar.
Criaram fotos coloridas,
comemorações festivas,
toques de tambores e atabaques,
para mostrar que somos
livres, felizes, e aceitos.
Tolas mentiras!
somos sim:
lascas de suor,
cortes de chicotes,
cheiro de fogão
entradas de serviço.
Precisamos fazer algo sim
para que ao invés
do paternalismo brutal
da gentil princesinha
haja a liberdade
de podermos realmente
abrir a porta desta senzala
para fazer a festa da cor real
do som dos atabaques
de danças e corpos
que rasgarão a noite,
os tempos
no verdadeiro canto
da ABOLIÇÃO que ainda não houve.


** De O Arco-Íris Negro, São Paulo, 1978 (José Carlos Limeira)




BRASIL COM P

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto, pobre, prostituta
Pra polícia prender
Pare, pense, porque?
Prossigo
Pelas periferia praticam perversidades: PMs
Pelos palanques políticos prometem, prometem
Pura palhaçada Proveito próprio,
Praias, programas, piscinas, palmas...
Pra periferia? Pânico, pólvora, pápápá
Primeira páginas
Preço pago?
Pescoço, peito, pulmões perfurados
Parece pouco?
Pedro Paulo
Profissão: pedreiro
Passa-tempo predileto: pandeiro
Preso portanto pó Passou pelos piores pesadelos
Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos
Perdeu parceiros, passado, presente
País, parentes, principais pertences
PC: político privilegiado
Preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policial
Passou pela porta principal
Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portanto pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões...
Pecado, pena
Prisão perpétua

Palavras pronunciadas pelo profeta, periferia

Próxima Parte:

Pelo presente pronunciamento,
pedimos punição para peixes pequenos,
poderosos pesos pesados.
Pedimos principalmente paixão pela pátria
prostituída pelos portugueses
Prevenimos,posição parcial poderá provocar
protestos, paralisações, piquetes, pressão popular,
Preocupados?
Promovemos passeatas pacificas, palestras,
panfletamos
Passamos perseguições, perigos por praça, palcos...
Protestávamos porque privatizaram portos,
pedágios... (precisamos produzir)... proibidos
Policiais petulantes, pressionavam, pancadas,
pauladas, pontapés (precisamos produzir)
Pangarés pisoteando, postulavam prêmios, pura
pilantragem
Padres, pastores, promoveram procissões
pedindo piedade,paciência para população
Parábolas profecias, prometiam pétalas,
paraíso predominou predador
Paramos, pensamos profundamente:
Porque pobre pesa plástico, papelão,
pelo pingado, passagem, pelo pão?
Porque proliferam pragas, pestes pelo país
Porque Presidente?
Pra Princesinha, Patricinha: Prestigio, Patrocinio,
Progresso, Patrimonios, Propriedade, Palacetes,
Porcelana, Pérolas, Perfumes, Plásticas, Plumas,
Paetes.
Porque Prossegue?
Pro Plebeu Predestinado: Pranto, Perfuracoes, Pesames,
Pulseira Pro Pulso, Pinga, Poeira, Pedradas, Pagar
Prestacao Por Prestacao, Parceiros Paraliticos,
Paraplexicos, Prostituicao
Personalidades Publicas Podiam Pressionar Permanecem
Paralizadas, Procedimento Padrao, Parabens! Peco
Permissao Pra Perguntar: Porque Pele Preta, Postura
Parda? Po Pensador, Pisou, Pior, Posou Pros Playboy,
Pra plateia, Peço Postura, Personalidade.. Pros
Parceiros, Pras Parceiras
Presidente, Palmares Proclama: Primeiro, Presenca
Popular Permanente. Proposta: Pente Por Pente, Pipoco
por Pipoco Paredao Pros Parisit


** Autor: GOG (CPI da Favela)




POEMA SOBRE PALMARES

Nos pés tenho ainda correntes,
nas mãos ainda levo algemas
e no pescoço gargalheira,
na alma um pouco de banzo
mas antes que ele me tome,
quebro tudo, me sumo na noite
da cor da minha pele,
me embrenho no mato
dos pelos do corpo,
nado no rio longo
do sangue,
vôo nas asas negras
da alma, regrido na floresta
dos séculos, encontro meus irmãos,
é Palmar,
estou salvo!
(...)
Para Palmares veio negro
que não gemia nos açoites.
E pelo mato escuro veio negro
que se escondeu na própria noite.
Pela selva fechada veio negro
para quem o Palmar foi clareira.
No rastro uns dos outros vieram negros,
cães acuados farejando o cheiro.
E negro roubado a esmo
do cativeiro para a liberdade,
do senhor para si mesmo.


** AUTOR: OLIVEIRA SILVEIRA (FRAGMENTOS 1972 – 1987)





A PALAVRA NEGRO

A palavra negro
tem sua história e segredo
veias do São Francisco
prantos do Amazonas
e um mistério Atlântico
A palavra negro
tem grito de estrelas ao longe
sons sob as retinas
de tambores que embalam as meninas
A palavra negro
tem chaga tem chega!
tem ondas fortes suaves nas praias do apego
nas praias do aconchego
A palavra negro
que muitos não gostam
tem gosto de sol que nasce
A palavra negro
tem sua história e segredo
sagrado desejo dos doces vôos da vida
o trágico entrelaçado
e a mágica d'alegria
A palavra negro
tem sua história e segredo
e a cura do medo
do nosso país
A palavra negro
tem o sumo
tem o solo
a raiz.


** AUTOR: LUIZ SILVA (CUTI)




QUILOMBOS
SONHOS I

O rei de Portugal
mandou ao povo matar
se Palmares ainda vivesse
em Palmares queria estar
Cumbe na Paraíba
Alagoas, Macaco e Subupira
Mangueira, São Carlos
Portela na Avenida
são quantos?
Ontem morri
em Andalaquituche
Tabocas
Amaro
Acotirene
Hoje no Juramento
Borel
Turano
Salgueiro
Morro subindo morro
rolo ladeira cada dia
com decidido ar de
defunto novo
quando desce a noite
vejo em cada fundo de prato
o reflexo da luz da vela
e sonhos para devorar
NOTÍCIAS
Por menos que conte a história
Não te esqueço meu povo
Se Palmares não vive mais
Faremos Palmares de novo.


** AUTOR: JOSÉ CARLOS LIMEIRA

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