
Com o processo de redemocratização do Brasil após 21 anos de Ditadura Militar, em que a sociedade brasileira viveu sobre a egia do poder exercido pelos militares, vimos surgir movimentos socio – culturais que contribuiram para dar voz aos sujeitos históricos, até então calados pelas práticas oficiais dos donos do poder. Para alguns pseudos intelectuais, a relação que a grande parcela da população pobre, que vive nas periferias das cidades brasileiras tem perante a democracia e de um estado de alienação. Não se reconhecendo como potenciais sujeitos históricos, dotados de um poder transformador, da sua própria realidade.
Com a abertura política em 1985, o movimento Hip – Hop desponta para atender o clamor da periferia, que necessitava de voz para se alto reconhecer, enquanto agentes de seu próprio tempo. Dotando – os de um sentimento de capacidade de intervir em sua própria realidade, fugindo do fatalismo que são impostos, sejam pelas grandes mídias, ou pelas estatísticas friamente constituidas pelo poder público. Dentro deste processo de constituição e complexificação do movimento, demonstrará os encontros e desencontros do que alguns ideólogos políticos chamam de democracia plena.
Quando pensamos o movimento Hip Hop, como uma manifestação de cunho coletivo, onde seus indivíduos são dotados de um senso de engajamento político determinado, três questões se abrem, perente nossos olhos, direciondo para o campo do debate teórico e da práxis. Para alguns o movimento Hip Hop e “apenas” um espoente cultural, ou minimamente falando, um movimento musical, onde seus elementos mais visíveis foram tragados pela indústria cultural. Também existe aqueles que o qualificam como um movimento que tem na apologia da violência, um dos seus principais elementos. A outra questão está alinhada a noção do movimento enquanto um mero “transplante cultural”, ou seja, não seria mais do que uma cópia fideldigna do movimento Hip – Hop surgido nos EUA, nos anos 1970.
Para compreendermos melhor o que significa o movimento Hip Hop no país, e necessário que regressemos a seus primórdios, tanto no EUA, quanto no Brasil. Como também deve – se compreender as quatro bases que compoem o Hip – Hop (break ou dança de rua, rap, grafite, MC e DJ).
A gêneses do movimento Hip – Hop nos EUA
Existe um consenso que o Hip – Hop nasceu nos EUA, na região do Bronx, na cidade de Nova York. Porém e incorreto afirmar que o Hip – Hop seja uma manifestação composta por elementos puramente norte – americanos. Nova York e historicamente uma cidade caracterizada pelo multiculturalismo. Na década de 1970, seus entornos mais pobres, ai podemos incluir o sul do Bronx, vivenciava uma efervecente deslocamento social. Está efervecencia contribuiu para o surgimento de um nova forma musical - o rap.
Dentro das formas expressivas do Hip – Hop, o rap recebeu influências das tradições culturais negras, como também foi influenciado pela música caribenha de origem africana. Aqui podemos abrir um parênteses e falar um pouco da contribuição dos imigrantes jamaicanos, que trouxeram elementos que iria compor a base do Hip – Hop.
O MC (mestre de cerimônias) e o DJ (disk – jockey) são os outros dois elementos que fazem parte do rap. Enquanto o MC priva no recitar da letra das músicas de forma rápida, o DJ desempenha o manusear do equipamento de som, criando a base musical tanto para os rappers cantarem, quanto para os dançarinos de break realizarem suas performace.
A conotação “política” existente no rap, onde o MC passa uma música com mensagem, vai se consolidar nos EUA em meados da década de 1980, isso segundo alguns autores. Está consolidação deve – se principalmente a grupos da costa oeste dos EUA, tendo em Boogie Down Productions e Public Enemy um dos principais expoentes da vertente “política” do rap. O conteúdo das músicas tendem a relatarem denúncias e injustiças sofridas pela comunidade negra norte – americana.
Existe uma outra tese que os primórdios do rap com uma conotação política, havia surgido na década de 1970, como reflexos da questão racial. Mesmo com a conquista dos direitos civis pelos negros, graças a atuação dos movimentos negros norte – americanos, entre eles o dos Panteras Negras, a questão racial continuava latentes. A Guerra do Vietnã seria outro disparador para a vertente política do rap. Não e segredo que o exército norte – americano no furor da guerra tenha engrossado suas fileiras de combate com um grande número de soldados provenientes das comunidades mais pobres do país.
Se explorarmos o rap enquanto uma manifestação contestadora da realidade, percebemos que mediante suas letras, revela o cenário vivido pelas pessoas nas regiões periféricas das grandes cidades, como evidência um contexto conflituoso, tencionado pelas desigualdades gritantes, existentes seja nas periferias dos EUA, Brasil ou da França. Talvez esteja ai a vitalidade que tornou o rap uma forma de expressão musical universal, sendo ouvida nas periferias de Nova York, São Paulo e nos subúrbios parisienses.
O Hip – Hop no cenário nacional
Ao trazer o Hip Hop para o cenário nacional, é inevitável falar do movimento sem não vincula – lo a cidade de São Paulo. Pois foi ali que surgia, em meados de 1985, primeiramente como uma expressão artística, tendo na dança de rua (break) sua principal manifestação. Mas ao passar do tempo foi sendo readaptado e reinterpretado, moldando – se até desembocar na sua fase mais complexa, que alem do break, o grafite, uma manifestação artística que mistura elementos das artes plásticas, produzindo painéis que representam a realidade da comunidade, compondo assim as bases do movimento Hip – Hop.
Como foi tratado anteriormente, o movimento Hip – Hop, sempre sofreu com o esvaziamento ideológico, causado principalmente pela grande mídia. Renegando a uma posição apenas musical, ou como um simples nicho comercial a ser explorado. Negar a existência do movimento Hip – Hop, e negar as tensões sociais existentes dentro da sociedade brasileira. Para tal, devemos estar atentos a estas práticas, que partem das elites dominates, que governam o Brasil durante anos. Como forma de refutarmos estas práticas, os sujeitos sociais vem atuando na formação da consciência crítica dos membros pertencentes do movimento Hip – Hop.
Com relação a questão da “apologia a violência”, que para alguns estão presentes nas letras do rap, comentários pertinentes devem ser tecidos. Pode – se afirmar que esta e uma das questões mais delicadas, que envolve o movimento Hip – Hop. Pois a partir do momento que se afirma o rap como gênero musical que faz apologia a violência, cria – se esteriótipos, preconizando e preconceitualizando tais sujeitos sociais. Esteriótipos estes, que são vendidos a todo momento pelas grandes mídias. Tudo isso segue uma lógica de ordenamento social. Pois fica mais fácil indentificar o pobre que mora na periferia como o eterno bandido na história. Vale ressaltar que quando sujeitos oriundos das classes médias brasileiras comporem músicas que fazem menção a polícia e suas práticas repressivas, o eixo das conceitualizações e invertida. Peguemos por exemplo a música “Polícia” dos Titãs, que tem o seguinte refrão: “Polícia para quem precisa, polícia para que precisa de polícia? Não se revela como música que faz apoligia a violência, mas sim, música de protesto, com um aceno politicamente correto.
Outro elemento delicadísismo ainda presente na questão do rap, enquanto gênero musical que faz “apologia a violência”, está o problema da violência institucionalizada, via polícia, presente nas grandes cidades. Analisando algumas letras de alguns grupos de rap, notasse uma certa visão que aponta para o cenário de uma guerra civil não declarada dentro de nossa sociedade. A polícia se constituem como a força repressora a serviço dos ricos. A incidência deste tema, retrata a polícia como uma instituição corrompida pela corrupção, e largamente utilizada pelas mídias.
Por último vem a questão do movimento Hip – Hop como um mero “transplante cultural”. Estes argumentos que descredibilitam o movimento Hip – Hop e de uma tamanha ingenuidade, pois a conjuntura histórica existente no Brasil era totalmente diferente da existente nos EUA, quanto as primeiras manifestações aportaram aqui. Como é diferente a estratificação social existente lá e aqui. Assim os apologistas da incredulidade a cerca do movimento Hip – Hop, enquanto uma manifestação sem elementos brasileiros são facilmente desmascarados. As demandas do movimento no Brasil são revelados enquanto uma herança historicamente constituida. Reflexos de anos e anos de opressão desempenhadas pelas elites dominantes sob as populações pobres. O que se pode dizer é que, seu agravante dá - se a partir do momento em que o processo de constituição de uma “identidade nacional” , tendo como matriz civilizadora a sociedade européia e forjada no final do século XIX e início do XX.
Fugindo dos esteriótipos
E salutar o apontamento de algumas características do movimento Hip – Hop enquanto movimento social, engajado em uma causa com contornos um tanto quanto definidos por seus membros. Estes apontamentos vão de encontro com uma noção preconizada, que ainda permeia as noções de movimentos sociais existentes durante a Ditadura Militar, o que a certo ponto dificulta o entendimento do movimento Hip – Hop, caindo na perigosa idéia de que as populações pobres urbanas estão sobre um estado de alienanção, não conseguindo se erguer perante a face desumana do sistema socio – econômico que vivemos.
Se fizermos uma comparação, a certo ponto anacrônico com os movimentos artísticos surgidos nos anos 60 que contestavam as instâncias intitucionais, e buscava uma saída para o país, com as novas manifestações, entre elas o movimento Hip – Hop, surgidas após a abertura política em 1985, e visível à inversão tomada por estes novos movimentos culturais. Dentro dos marcos propostos pelos movimentos de 1960, estava a crença inabalável que se poderia mudar o Brasil, mediante a arte. Os novos movimentos, que serão geridos após 1985, têm como objetivo não a mudança da sociedade em sua pluralidade, mas sim, a esfera que estão inseridos. O caráter contestatório se fundamentalizam não mais na deposição do Estado instituído, sendo substituído por um Estado Socialista, como os movimentos dos anos 60 profetizavam. Agora busca – se a inserção destes indivíduos, que se vêem órfão do Estado, através das críticas veementes que são vinculadas via rap. Esta prática até certo ponto e perigosa, pois com isso cria – se a falsa idéia da livre concorrência entre os indivíduos, tendo na meritocracia o fator balizador das disputas.
Outro ponto a destacar e a inversão do aparato repressivo. Após o Golpe de 64 houve um esvaziamento dos movimentos culturais politicamente engajados, que até ponto e justificável, principalmente se pensarmos no aparato repressivo criado pelos militares, seja pela censura, seja pela prisão dos membros mais atuantes. Agora com relação à década de 1980, após a abertura política, há uma efervescência onde emerge a noção de se estar vivendo sobre uma democracia plena, confabulando este, o grande perigo, pois a maioria das pessoas foram tragadas por esta falsa e enganadora idéia. Os poucos movimentos que surgiram neste período, foram incorporados à nova visão de espaço para se exercer o debate político, onde os movimentos são apresentados de forma fragmentada, sem nenhum vínculo entre ambos. Este e uma das novas formas de repressão aos movimentos civis organizados, como também pode citar a mídia, enquanto aparato repressivo. A fabricação de esteriótipos, o esvaziamento ideológico, substituídos por elementos econômicos, são algumas formas utilizadas pela mídia, como aparato repressivo. Outra prática exercida pelos aparatos repressivos sobre os movimentos sociais, que presenciamos atonitos atualmente, ai incluimos o movimento Hip – Hop está na criminalização de tais movimentos, elevando – os a esfera da ilegalidade.
E corriqueiro pensar nas populações que vivem nas periferias das cidades, através de um caleidoscópio míope, que categoricamente os revelando como simples indivíduos inseridos em uma conjuntura desfavorável. Este pensamento e muito cômodo, e de extrema eficácia, pois os colocam em uma estrutura de explicação, que os petrificam em sua condição, ou seja, eternamente serão os excluídos sociais. Assim sempre que se falar em desigualdades sociais, logo se pensa em excluídos sociais, o conceito e não os indivíduos. A estrutura explicativa encobre todo o conflito e as tensões, que moldaram estes indivíduos, como também encobre a pluralidade de sentimentos que compões os seres humanos. Por isso a música tem significância universal, pois potencializam os homens, transformando – os em atos de ação perante suas adversidades.
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